18 de jul. de 2011

Naquele tempo, eu gostava do Rage... Mas tinha os “Nego Véio” que eu gostava muito mais! (Jorge E.)




Naquele tempo, eu gostava do Rage...
Mas tinha os “Nego Véio” que eu gostava muito mais!
Por: Jorge E.
Revisado por: Monalisa Pontes

Nego Lira me apresentou esta canção do Mestre Guitarreiro Luiz Wagner e eu me apaixonei logo no primeiro verso: “Naquele tempo, eu gostava dos Beatles mas...” Era uma frase que dizia muita coisa sobre mim mesmo. – Porra! Era isso! Eu gosto do Rap, do Flow, do Groove pesado, eu gosto de The Doors, sei muito sobre Robert Nesta... “...mas tinha os “Nego Véio” que eu (realmente) gostava (e gosto) muito mais!” éhh.. “OS NEGO VÉIO”...
Fui criado no meio deles, desde os tempos da latinha de feijão nos sambas do Tio João, até nos palcos da vida com o Mé Maior. Devo muito aos “Nego Véio”. Musicalmente falando então! Quase tudo!
Lembro do primeiro dia em que cheguei com um Surdo (instrumento de percussão) novinho no palco do Sapore de Rose, no edifício Copam, no centro de São Paulo. Onde eu ingenuamente aceitei um convite do meu (até então) amigo Jimi Anderson (hoje meu compadre), para fazer um samba com um pessoal. Dei de cara com Reginah, Lira, Max... Eu lá quietinho, atrasado com muita vergonha ouço a cantora: - Chegou mais um músico! Eu estava arruinado...
Um repertório só de clássicos e uma plateia seleta.
Músicos de verdade! Músicos da Noite! Eu estava perdido!
Minha carreira havia terminado logo no primeiro dia! Mas graças a um técnico de som em uma noite pouco inspirada, meu surdo não fez tanto barulho e os músicos (até hoje não sei o que deu neles) gostaram de mim. Talvez por não atrapalhar. Vai saber...
E assim foi o início dessa minha saga de músico percussionista. Saga essa que me orgulho muito! Tenho pessoas que gostam de mim e que pra mim são verdadeiros Mestres, tanto na música quanto na vida. Meus “Nego Véios”! Tenho esse privilégio!
Sou o tipo do cara que nos Sambas me chamam pelo diminutivo do nome, coisa que nem na minha casa acontece! Coisa de “Nego Véio”.
Depois disso veio os sambas com o Mé Maior, ia vê-los tocar e vou até hoje como aula. É um aprendizado ver os “Nego Véio” tocarem... Muito foda! Às vezes eles me deixam fazer um sambinha aqui, outro ali. Uma turnê aqui, lá.. Do Lira e Betinho veio a Célia Nascimento, os shows no sindicato, a Banda Gato Preto que era eu Jimi, Lira e Betinho. O DVD da Célia. Mais pra frente veio o Chilin...
Estou rodeado de mestres e bambas mesmo tendo minha formação musical vinda de outro tipo de som. Isso já me faz um cara feliz demais!
Estava pensando antes de começar a escrever esta coluna, após uma conversa com meu parceiro de Samba Enredo, Dudão do Vai-Vai e meu parceiro de rock in roll, Renatão do Pânico Urbano, que sempre fui assim igual a frase que da título a esta coluna. Eu sempre transitei entre mundos diferentes na música, talvez opostos, talvez não. Música não é time de futebol, música é feeling, é alma.
E assim eu me criei...misturado e misturando!
Sou o sambista da Bela Vista vestindo uma camisa xadrez de Seattle, o Cartola no peito e Body Count na cabeça! Sou Lenny do Motoread misturado com Agnaldo Amaral puxando: “- É de enlouquecer, Vai-Vai minha coroa...” o Tarol e a guitarra do Tom Morelo, a Bateria do Vai-Vai na voz do Zack de la Rocha.
O Samba de ativista, a Al Jazeera brasileira mostrando o desfile da Mangueira.
Sou assim! Acredito na revolução e sei que tem muitos iguais a mim por aí.
O problema é que sobra na pele da massa os dogmas e os paradigmas exatos de quem já disse um ditado...Por isso soa como uma contracultura mesclar dois mundos tão distintos.
Porque não podemos gostar dos Beatles e dos “Nego Véio”?
Porque não podemos chegar na Bela Vista e ter som pra trocar idéia, bagagem de música nas costas, saber de carnaval sim, mas porque não discutir sobre Marvin Gaye na barraca da Baiana?
Soube que um diretor da minha Ala de Compositores não sabia que a música que estava sendo cantada era Let’s get it on e nem quem era Marvin Gaye.
Isso ilustra meu pensamento!
Todos acham que ser Compositor de Escola de Samba é foda, tem de ter mil atributos, pensamentos, cultura musical aguçada, ter cultura literária e ser foda na caneta ou no ponteado de uma viola de 7 cordas não é? Eu também acho a mesma coisa e me preparei pra isso! Pra chegar e não passar vergonha. Pena que “às vezes” as coisas não são como deveriam ser!

“...salve os “nego véios” que gostam de mim e fazem parte da minha formação musical: Seu Leonel (Meu Pai), Lira San, Betinho, Carlão, Miro, Jorge, Jimi Anderson (Grupo Mé Maior), Chilin, Neno, Penteado, Afonsinho, Zé Carlinhos, Wagner Santos, Oswaldinho da Cuíca, Mestre Tadeu, Buiu, Juvenal, Tio Paulo, Paulão, Helinho, Vagnão Harmonia (Vai-Vai), Tio Leno, Tio Valdir, Lé, Nego Suka, Leleis, Gutão do Pandeiro, Samba da Praça é nossa (só colava bamba), Samba do bar do Ney, Samba do meu Tio João. E a meu avô Waldemar por ter me mostrado que malandragem de verdade é ser honesto! Apesar do terno branco e do chapéu Panamá! Salve!

3 comentários:

  1. lindo texto, também acho que mesclar o que tem de bom na música nos torna não só músicos melhores mas, pessoas melhores também. Reconhecer a beleza numa sinfonia de Mozart e tb num rap do Sabotage. Essa nova geração (nossa) começa aos poucos realizar o velho sonho de Caetano Veloso, da geleia geral, tudo junto e misturado, como num ritual antropofágico, devorar aquilo que é bom e desdenhar do resto !!!

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  2. Jó... Sensacional o seu texto !! Realmente , agente gosta mesmo do que é a nossa essencia... A nossa raiz ... E diria com todo o orgulho no mundo que vc tbm é um " nego véio" SIM você é !! Só que um mais moderno... Que tbm sabe que a boa música está em diferentes lugares e que o bom da musica é isso !! Que agente pode escolher o que vai ouvir, e que sempre terá uma historia por trás de muitas delas ao longo do caminho... Saudade " nego véio " !!! Bjos Pri Rigolin. 30.07.11

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  3. O tempo vai passando...
    O samba vai seguindo...
    O povo está feliz... Cantando, sambando, sorrindo e assim vamos nós...
    Tirando um som que de dentro do peito não sai...
    O samba balança, porém não cai... (João Nogueira).
    Ouvindo junto ao meu Nego Véio Sr. Agostinho de Mello o saudoso sambista João Nogueira descobri o prazer, o amor que tenho pela música. As rodas com ele, os amigos e meu tio Abelardo em que eles colocavam sua mascote (EU) com apenas cinco aninhos para cantar a plenos pulmões Tião Carreiro, Pena Branca e Xavantinho, Luis Gonzaga, Pixiguinha, Cartola, passando pelo sambista malandro Bezerra da Silva e tantos outros... deixaram saudades...
    Lembranças tão doces como as que tenho do meu irmão mais velho que me apresentou ao melhor do Rock, assim conheci: LED, SEX PISTOLS, ACDC, KISS, RAGE AGAINST THE MACHINE, BEACH BOYS, BEATLES, BLACK SABBATH, BOB DYLAN, ELVIS, JANIS JOPLIN, as GUITARRAS DE JIMI HENDRIX E CARLOS SANTANA, THE DOORS que os vizinhos tinham que nos suportar cantar... Light my fire !!!Rsrss. Mais tarde veio BLINK 182, FOO FIGHTERS, COLDPLAY, INCUBUS, KORN, THE POLICE, THE STROKES… todos com estilos diferentes ,complementares e atitude ROCK!
    Do amor pelas questões sociais veio o gosto pelo RAP e o REGGAE suas expressões que fala a língua do povo e nos leva a reflexão, RACIONAIS, GOG, DMN, FACÇÃO CENTRAL, EXPRESSÃO ATIVA, THAID, SISTEMA NEGRO, SABOTAGE a lista é longa... Na filosofia Reggae senti despertar a consciência me elevei ao puro ritmo africano e tenho que saudar o grande DELORY WILSON, BOD ANDY, BURNING ESPEAR, OS THE WAIRLERS e o pai de todos BOB MARLEY que levou o reggae ao mundo... Fora os nacionais...
    Foi com tantas vertentes que descobri que a música é única e universal.
    Hoje mais velha fui apresentada ao mundo do samba de carnaval e seus enredos e me apaixonei.
    E assim pretendo seguir... Conhecendo, experimentando ritmos e me apaixonando.
    Salve a todos as bambas imortais... MEU CORAÇÃO É SAMBA!!!

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