3 de nov. de 2010

No RATM eu sentei e chorei...(Jorge E.)




No RATM eu sentei e chorei... (Jorge E.)

Houve um tempo em que a revolução existia!
Éramos contra tudo e contra todos. Contra a Polícia, Vereadores oportunistas...
Era "EU" e meu brilho no olhar fazendo a revolução em cada show, papelão ou pedaço de chão onde pudesse dizer ser um palco.
Sem luz, sem retorno no ouvido, somente discursos engajados, propósitos versados e linguagem ativista real e singela.
A noção do certo a cada palavra em microfones que explodiam em passeatas anti-sapiens se perdia em meio às drogas, violência, pobreza, descaso social, álcool, nicotinas e noções deturpadas sobre a realidade do mundo.
Éramos a Pedreira e a Pedreira era o que "EU" escrevia.
Era verdadeiro, era fato, era a vontade dos iguais a mim, vontade de cantar algo que eles também viam e tinham vontade de falar.
Isso é o que eu carrego comigo para sempre, isso é minha vida, minha bandeira, minha missão na terra talvez.
Missão essa que em muitas vezes eu tentei convencer a todos de que não existia mais...
Era meu conflito... “... o pior e o melhor de mim, meu termômetro, meu quilate..."
Dia nove de outubro de dois mil e dez...
No meio do nada surge uma estrela vermelha e uma sirene, da o tom do que seria a noite em que meu "EU" de 33 anos ia se deparar com meu "EU" de dez anos atrás...
No Rage Against the Machine eu chorei...
Eu vi tudo que eu sonhava ser um dia na vida, bem ali na minha frente.
Chorei porque estava ali, vivo, para ver o que sobrou da minha revolução.
E mesmo que digam: - Não existe mais o Rage ativista!
Foda-se! No palco era a revolução ao vivo! Ali no palco, era a essência!
Era o que eu já tinha tentado ser. E eu estava ali vivo para ver e ouvir!
Ha uma diferença em estar e se sentir vivo. Ali eu estava vivo e me sentindo vivo! Por muitos anos, minha luta foi aquilo ali que estava no palco, me espelhava na postura e no engajamento político e sócio-crítico da música, como ferramenta de mudança conceitual da massa. Mas a vida me deu outro tom e acabei me tornando muita coisa que achava inaceitável ser, ter e possuir.
Foi à batalha do século dentro de mim. Tudo que eu me tornei versus tudo que eu lutava contra. Estavam bem diante dos meus olhos as lembranças de todos os "perreios" e desilusões, todas as frustrações, fracassos e decisões incertas, que tomei visando o ativismo. Nunca lutei para ter uma banda de rock idiota. Eu lutava pelo "poder de falar" o que a gente vivia, via e sentia. Expressar de verdade nossos sentimentos. Eu lutava pela liberdade de ser mais, muito mais!
Eu chorei, pois ainda ha quem escreva “... seu salvador é minha guilhotina, cruzes e querosene..." em uma letra de música.
Eu chorei, pois aquilo era a minha revolução. Fazer parte da luta sem pegar em armas ou se envolver em guerrilhas ideológicas distantes das ruas do meu bairro.
Chorei... Não porque eu me tornei um milionário, estúpido, racista, podre, herdeiro de fortunas que se esqueceu de onde veio e despreza suas raízes. Nada disso... Eu chorei porque continuo sendo a mesma pessoa de sempre que decidiu não morrer de fome, estudar, trabalhar e batalhar pra ter suas coisas nessa vida, ter algo melhor. Eu chorei porque na real, eu era um idiota, por não achar que ser quem eu sou hoje, também é ser um revolucionário!



"Pobre de quem teve medo de correr os riscos. Porque este talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem "sofra" como aqueles que têm um sonho a seguir."
(Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei...) Paulo Coelho

“Dedico esta coluna a meu irmão Cabeção da Pedreira, por tudo que já conversamos nessa vida e por ser a única pessoa que conheço que me faz realmente acreditar na revolução.”


BONUS:

12 comentários:

  1. este foi o texto q mais gostei,,esse veio da alma,,,,muito bacana,,, continue assim.

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  2. Luiz - futuro ex baixo-PU4 de novembro de 2010 às 14:50

    Porra Jorge, muito bom velho, belo discurso!!! veio do dedão do pé mesmo! Eu tb tava ali chorando, talvez por motivos tão iguais mas tão diferentes, por saber que esses caras foram um dos que transformaram minha vida num palco de rock n roll!!!! E por representar as bandas alternativas! Eles podem ser rockstars, mas ainda sim são underground/alternativo...
    Ta bom, o papo nem era bem esse, mas loco esse texto! kkk

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  3. Foi com uma enorme interrogação na cabeça que um dia após ler mais uma das colunas de Jorge.E que me peguei questionando de onde vinha tanta consciência do chamado submundo muito bonito para se fazer demagogias mais que ninguém quer de fato conhecer de perto. Em um relato tão verdadeiro que me levou as lágrimas(fato esse que o nobre colunista não sabia) Me deparei também com meus preconceitos ou seja...O conceito de julgar na base das aparências e que belo tapa levei!É sr. nessa vida se não lutamos, se não damos nossa cota de sangue e suor em prol de nossos ideais acabamos nos assemelhando aos covardes que confortavelmente ditam leis sem almenos ter sentido em suas carnes o frio cortante da navalha realidade. Salve!! Preto...

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  4. Pow o texto tá muito loko!!! essa mina ai..MANUELA podia fazer um blog, tbém viu, muito fera!!! abraço a todos.

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  5. Salve Jorgito, esse texto foi "bolado" no veneno, mlk..arrepiou mesmo!!! "E o sangue joooorrrraaaaaa!!!Abx

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  6. Salve Meu parceiro ... me fez viajar e me lembrar da nossa época do alistamento no exercito,nossa época de Reggae Nigth ... Mil Fitas... Sempre representando a nossa quebrada..

    Texto de primeira mermão....

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  7. Não devemos dar a cara pra bater, mas sim bater na cara de quem se acha superior por algum tipo de recurso ou hierarquia, somos todos um só nesse mundão, revolução é você quem faz!!! Belo texto Jorge, o blog está de parabéns, vou bater o cartão aqui mais vezes, grande abraço e sucesso meu querido! Bruno Doceria

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  8. Uma das melhores colunas até agora, pra quem viveu a epoca de ouro do RATM e viu esse show...inspiração não ia faltar...mesmo eu tendo algumas criticas sobre o festival, o show foi foda...esperei por muito tempo pra ver isso e realmente valeu a pena...

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  9. Fala Meu irmao, parabens pelo texto, pelas colunas. Acompanho todas por aqui, mesmo distante no fisico to ai do seu lado de alma. Bela ideia, otima essencia. Somos nos, sempre!
    A luta continua!!! Forte Abraco! Joao Paulo - Dublin

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  10. Legal o texto.
    Não sei explicar meu sentimento durante o show. Uma mistura de raiva, adimiração e realização.
    SoSS

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  11. Salve Jorge, o texto ta perfeito por expressar o que essa banda representa para quem realmente axompanhou sua trajetoria! E eu tava la, do lado do cabeção, fazendo a nossa revolucao no meio de milhares! FODA!

    abraço, Espeto!

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