3 de abr. de 2013

Cronologia relembra o que marcou os últimos 30 anos da noite em SP (Folha de S. Paulo)


1979 - Famosos e ricos se encontram na Gallery
No ano em que a novela "Dancin' Days" foi exibida pela Globo, São Paulo ganhou um ícone da noite: a Gallery, frequentada por celebridades e endinheirados. A atriz Vera Fischer e o roqueiro Cazuza são artistas que passaram por lá. Foi a primeira casa do empresário José Victor Oliva, na época com 23 anos. Nos anos 80, ele abriu ainda os clubes Banana Café, Moinho Santo Antônio e Resumo da Ópera. Acabou ganhando um apelido: o "rei"da noite.

1983 - Madame Satã abre alas para a cena underground
As gangues dos Carecas do ABC e turmas de punks transformavam a inquietação juvenil em brigas de rua. Mas, no Madame Satã, eles pareciam conviver pacificamente, na companhia de góticos e artistas. Dentro desse caldeirão, dançava-se ao som da banda The Cure, declamava-se Rimbaud. Em 1983, Madonna lançou seu primeiro álbum.

1987 - Up&Down atrai jovens e adolescentes
A Up&Down abriu na rua Pamplona, nos Jardins. Foi uma das primeiras baladas a investir em iluminação psicodélica. Menores de idade entravam com facilidade na casa, que virou reduto teen. O ano também tem como marca a abertura, no largo da Batata, do Aeroanta, casa de shows que investia no rock nacional. Seu palco recebeu bandas como Camisa de Vênus e Mundo Livre S/A. Lá, Cazuza lançou, em São Paulo, o álbum "Ideologia" (1988), dirigido por Ney Matogrosso.

1988 - Nation investe em pop e eletrônica
O Madame Satã ainda funcionava, mas boa parte do público underground já havia migrado para a Nation, na rua Augusta. Menos soturnas, as festas da casa eram marcadas pelas performances dos DJs Mauro Borges e Renato Lopes, que apresentavam músicas de Kylie Minogue e Madonna. Ali, o pop brasileiro (ou ao menos a música para pista) tem um ímpeto de nacionalização. O hit "Que Fim Levou o Robin?", de Mauro Borges, chegou a ser tocado no programa "Viva a Noite", de Gugu Liberato (SBT).

1989 - Legião lança o disco "As Quatro Estações"
Enquanto o acid house, ritmo de Detroit que pegou com força em Londres, não chegava ao Brasil, a faixa "Maurício", do álbum "As Quatro Estações", da banda Legião Urbana, virou hit de pista. O inglês Morrissey, dos Smiths, já fazia carreira solo e influenciava bandas nacionais. O grupo Nirvana lança seu primeiro álbum, "Bleach", pela gravadora independente SubPop. O estilo e a moda grunge, em São Paulo, davam seus primeiros passos.

1991 - Massivo vira ícone GLS
A cena gay ganhou um reduto que marcou época: o Massivo, nos Jardins, foi porta para a música eletrônica, embora desse espaço para Michael Jackson e Sidney Magal. O performer Johnny Luxo, que recebia convidados na porta, surgiu como símbolo da união entre noite e moda. Anos depois, se tornaria modelo de um jovem estilista, Alexandre Herchcovitch. Os DJs Julião e Marky Mark começaram a tocar na Sound Factory, na zona leste, ritmos até então pouco conhecidos, como o drum and bass.

1992 - Folha lança "Noite Ilustrada", Coluna de Erika Palomino
Com bandas e DJs, o L&M Music inaugurou o conceito de rave urbana no estádio do Pacaembu. A coluna "Noite Ilustrada", de Erika Palomino, foi lançada na Folha. Madonna colocou nas lojas de discos o LP "Erotica", um álbum pós-punk sobre o amor. Gays ganharam uma nova casa, a Sra. Krawitz, que apostou suas fichas em um gênero mais pesado e menos pop: o techno.

1994 - O primeiro after-hours
A carinha feliz do Smile se tornou símbolo da cultura do acid house e inspirou a criação de uma outra imagem, um solzinho rodeado de pernas. Era o logo do Hell's, festa criada pelos DJs Gil Barbara, Mau Mau e Pil Marques. Considerado o primeiro "after" da cidade, a festa começava às 4h, no Columbia, nos Jardins. Ali, o ecstasy deu cores a uma nova cultura, e o preto perdeu espaço. O tênis All Star voltou à moda, em parte porque foi visto no pé do vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain, que se matou neste mesmo ano.

1995 - DJ francês Laurent Garnier em São Paulo
Endeusado por clubbers, o DJ francês Laurent Garnier faz sua primeira passagem pela noite paulistana. Ele tocou no Latino e no Sound Factory e apresentou-se no Hell's. O DJ, que procurava novos públicos depois de ter uma carreira ovacionada em Detroit e na França, apresentou um set tão importante para a noite de São Paulo quanto para ele próprio. Algo que deixou registrado na biografia escrita pelo jornalista David Brun-Lambert. Em 1995, a Vila Madalena ganhou um reduto que fez história entre roqueiros: o bar Matrix.

1996 - Zona Leste ganha casa de mauricinhos
O Moinho Santo Antônio levou mauricinhos e patricinhas à Mooca. Na casa, Chemical Brothers podia ser ouvido em set que também incluía "Garota Nacional", do Skank. Um pouco mais distante, o clube Sirena (inaugurado em 1993) tornava-se apêndice da noite paulistana, em Maresias. A música eletrônica deixava de ser uma exclusividade do mundo underground.

1997 - Primeira Parada Gay Reúne 2.000 pessoas
A primeira parada gay, na avenida Paulista, reuniu cerca de 2.000 pessoas. Bandas como Prodigy, Daft Punk e Underworld invadiram a programação da MTV. Em Pinheiros, uma casa escura abriu as portas com o nome de Torre do Dr. Zero. Liderado pelo DJ Bispo e por Positive, a casa foi celeiro de bandas como o CSS (na época chamada de Cansei de Ser Sexy). Num domingo de Páscoa, às 7h, uma batida policial no Hell's Club, em operação antidroga, leva 400 pessoas para a delegacia. A cultura do ecstasy já andava a todo vapor.

1998 - Lov.e Club & Lounge abre na Vila Olímpia
Aberto no Dia dos Namorados, o Lov.e Club & Lounge traz programação variada e vira ponto de encontro de todas as tribos. Às quartas, promovia uma noite de trance. Às quintas, era a vez do drum and bass, em noite comandada pelo DJ Marky Mark, que mais tarde passou a se chamar Marky. Nas sextas, house. De sábado para domingo, rolava o Lov.e Paradise, "after" que selou o encontro entre público hétero e gay.

1999 - Manga rosa abre na Vila Olímpia
O Manga Rosa levou a cultura eletrônica para mauricinhos e patricinhas da Vila Olímpia. Um ano antes, o inferninho A Lôca, na rua Frei Caneca, promoveu uma matinê importante para o cenário gay, o Grind, que começava às 19h com sessões de rock "indie", pop e música punk. A casa Blen Blen reabriu em novo endereço, na Vila Madalena, e tornou-se seleiro de uma nova geração da MPB, que incluiu Otto, Simoninha, Jair Rodrigues e a banda Funk Como Le Gusta, entre outras atrações.

2000 - Skol Beats faz rave urbana em Interlagos
Na década anterior, as raves haviam ocupado fazendas, sítios e galpões, seguindo o modelo das festas inglesas. A primeira edição do Skol Beats trouxe esse conceito para o espaço urbano. Realizada no autódromo de Interlagos em junho, recebeu 20 mil pessoas. Ainda que um festival de música eletrônica já tivesse acontecido no Pacaembu, o Skol Beats foi o primeiro grande evento do gênero, apresentando nomes como Paul Oakenfold, Bob Sinclair, DJ Rap, Green, Patife e DJ Marky.

2003 - D-Edge vira referência internacional
O DJ Renato Ratier abre o D-Edge no espaço antes ocupado pelo clube Stereo. A casa vira referência pela programação, pelo equipamento de som e ainda pelo grafismo de luzes em painéis eletrônicos nas paredes, no teto e no piso. Em 2009, foi citada pela "DJ Magazine" (bíblia do gênero) como uma das dez melhores casas do mundo. Entrou na rota obrigatória de DJs internacionais, como o chileno Ricardo Villalobos.

2005 - Clube incentiva renovação da Augusta
Um clube abre com a força de uma intervenção urbana. Fruto de uma sociedade entre o rockabilly José Tibiriçá e o argentino Facundo Guerra, o Vegas apresentou programação de qualidade, atraiu público e estimulou a ocupação da rua Augusta. Na abertura, a rua era basicamente ocupada por prostitutas, que passaram a dividir espaço com baladeiros. Outros clubes seguiram o exemplo, ocupando o trecho da rua hoje conhecido como Baixo Augusta (entre a rua Consolação e a avenida Paulista). No mesmo ano, mais um reduto roqueiro aparece nos arredores, o intimista Milo Garage.

2009 - Casa de Nova York ganha filial em São Paulo
Manga Rosa e Lov.e fecharam as portas, e São Paulo ganhou uma filial da casa nova-iorquina Pink Elephant. Enquanto o eixo Vila Olímpia colecionava baladas de clima internacional, como a Disco e a Mynt Lounge, com seus camarotes patrocinados por rótulos de bebida, o cenário underground paulistano se renovava, no centro, com a inauguração da Voodoohop, uma festa que teve edições tímidas em 2008 e que, em 2009, ocupou um prédio abandonado na avenida São João. Em agosto, uma medida do governo obriga frequentadores e estabelecimentos a mudar um hábito antigo: entra em vigor a lei estadual antifumo, que proíbe fumar em ambientes fechados de uso coletivo como bares e clubes.

2010 - MIS lança balada vespertina
O Museu da Imagem e do Som promoveu sua primeira Green Sunset, festa gratuita realizada sempre nas tardes de sábado. O evento inicia sem periodicidade, mas, em 2011, se torna mensal. A Green Sunset abriu espaço para um novo tipo de cultura: a de baladas que iniciam um pouco antes do pôr do sol. As primeiras edições foram descontraídas, com baladeiros levando bebidas em caixas de isopor --crianças e cachorros também marcaram presença, numa possível releitura da cultura hippie. Em 2011, o museu passou a cobrar ingressos a R$ 10, para controlar a lotação.

2012 - Voodoohop invade o Minhocão
Em março, a festa Voodoohop faz uma grande intervenção urbana. Usa as redes sociais (especialmente o Facebook) para divulgar uma festa gratuita realizada em cima do elevado Presidente Costa e Silva, o Minhocão. Dá continuidade, portanto, à cultura das festas vespertinas, com baladeiros andando de skate, dançando e fazendo performances

FONTES: os empresários da noite Fernando Tibiriçá e Cacá Ribeiro, André Hidalgo, DJs Bispo e André Pomba, Erika Brandão, livros "Todo DJ já Sambou", de Cláudia Assef, e "Babado Forte", de Erika Palomino, sites setedosesdecachaça.blogspot.com e rraurl.com

Matéria retirada do site:
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1075668-cronologia-relembra-o-que-marcou-os-ultimos-30-anos-da-noite-em-sp.shtml

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